A Disciplina do Estudo
“Quem estuda somente os
homens, adquire o corpo do conhecimento sem a alma; e quem estuda somente os
livros, a alma sem o corpo. Quem adiciona a observação àquilo que vê, e
reflexão àquilo que lê, está no caminho certo do conhecimento, contanto que ao
sondar os corações dos outros, não negligencie o seu próprio.” - Caleb Colton
O propósito das Disciplinas Espirituais é a total
transformação da pessoa. Elas visam a substituir os velhos e destruidores
hábitos de pensamento por novos hábitos vivificadores. Em parte alguma este
propósito é visto mais claramente do que na Disciplina do estudo. O apóstolo
Paulo diz que o modo de sermos transformados é mediante a renovação da mente
(Romanos 12:2). A mente é renovada aplicando-se a ela as coisas que a
transformarão. “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o
que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o
que ocupe o vosso pensamento” (Filipenses 4:8). A Disciplina do estudo é o
veículo básico que nos leva a ocupar o pensamento. Assim, devemos regozijar-nos
pois não estamos por conta de nossos próprios inventos, mas recebemos este
recurso da graça de Deus para a transformação de nossa disposição interior.
Muitos cristãos permanecem em sujeição a temores e ansiedades
simplesmente porque não se beneficiam da Disciplina do estudo. Talvez sejam
fiéis em sua freqüência à igreja e desejosos de cumprir seus deveres
religiosos, mas ainda não estão sendo transformados. Não estou aqui falando dos
que manifestam meras formas religiosas, mas dos que verdadeiramente buscam
adorar e obedecer a Jesus Cristo como Senhor e Mestre.
Jesus deixou inconfundivelmente claro que o conhecimento da
verdade é que nos liberta. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
(João 8:32). Os bons sentimentos ou experiências extáticas não nos libertarão.
O princípio é verdadeiro em qualquer área. É verdadeiro em
Biologia e em Matemática. É verdadeiro no casamento e em outras relações
humanas. Mas é especialmente verdadeiro com referência à vida espiritual.
Muitos estão embaraçados e confusos no andar espiritual por
simples ignorância da verdade. Pior ainda, muitos têm sido levados à mais cruel
escravidão por ensinamentos falsos.
Apliquemo-nos, pois, a aprender o que constitui a Disciplina
Espiritual do estudo, a fim de identificar suas ciladas, praticá-la com alegria
e experimentar o livramento que ela traz.
Que é Estudo?
Estudo é um tipo específico de experiência em que, mediante
cuidadosa observação de estruturas objetivas, levamos os processos de
pensamento a moverem-se numa determinada direção. Por exemplo, tomemos o estudo
de um livro.
Vemo-lo, sentimo-lo. À medida que o estudamos, nossos
processos de pensamento assumem uma ordem que se conforma à do livro. Quando
feito com concentração, percepção e repetição, formam-se hábitos arraigados de
pensamento.
O Antigo Testamento instrui no sentido de as leis serem
escritas nas portas e nos umbrais das casas, e atadas aos punhos, de sorte que
“estejam por frontal entre vossos olhos” (Deuteronômio 11:18). A finalidade
dessa instrução era dirigir a mente de forma repetida e regular a certos modos
de pensamento referentes a Deus e às relações humanas.
Devemos esclarecer, uma vez mais, que os arraigados hábitos
de pensamento que se formam, conformar-se-ão à ordem da coisa que está sendo
estudada. O que estudamos determina que tipos de hábitos devem ser formados.
Por isso é que Paulo insistia em que nos ocupássemos das coisas que são
verdadeiras, respeitáveis, justas, amáveis e de boa fama.
Embora a meditação e o estudo muitas vezes se superponham e
funcionem concorrentemente, constituem duas experiências distintas. O estudo
proporciona determinada estrutura objetiva dentro da qual a meditação pode
funcionar com êxito.
No estudo há dois “livros” a serem estudados: verbal e não
verbal. Livros e preleções constituem, portanto, apenas metade do campo de
estudo, talvez menos.
O mundo da natureza e, muitíssimo importante, a observação
cuidadosa dos acontecimentos e das ações são os campos básicos do estudo não
verbal.
Quatro Passos
O primeiro é a repetição. A repetição é uma forma de
canalizar a mente de modo regular, numa direção específica, firmando assim
hábitos de pensamento. A repetição desfruta, hoje, de certa má fama.
Contudo, é importante reconhecer que a pura repetição, mesmo
sem entender o que está sendo repetido, em realidade, afeta a mente interior.
Hábitos arraigados de pensamento podem ser formados apenas pela repetição,
mudando assim o comportamento. Esse é o princípio lógico central da
psicocibernética, que treina o indivíduo para repetir certas afirmações
regularmente (por exemplo, amo a mim mesmo incondicionalmente). Nem mesmo é
importante que a pessoa creia naquilo que está repetindo; basta que seja
repetido. A mente interior é assim treinada, e afinal responderá modificando o
comportamento para conformar-se à afirmação. Naturalmente, este princípio tem
sido conhecido durante séculos, mas só em anos recentes recebeu confirmação
científica.
É por isso que a programação de televisão tem tanta
importância. Com inumeráveis crimes cometidos todas as noites no horário nobre
da TV, a própria repetição treinará a mente interior em padrões de pensamento
destruidor.
A concentração é o segundo passo no estudo. Se além de
conduzir a mente repetidas vezes ao assunto em questão a pessoa concentrar-se
no que está sendo estudado, a aprendizagem aumenta sobremaneira. A concentração
centraliza a mente. Ela prende a atenção na coisa que está sendo estudada. A
mente humana tem capacidade incrível de concentrar-se. Esta capacidade natural
do cérebro aumenta quando, com unidade de propósito, concentramos nossa atenção
num desejado objeto de estudo.
Quando não apenas de maneira repetida canalizamos a mente num
determinado sentido, concentrando nossa atenção no assunto, mas entendemos o
que estamos estudando, então atingimos um novo nível. A compreensão é,
pois, o terceiro passo na Disciplina do estudo; ela leva à introspecção e ao discernimento;
também provê a base para uma verdadeira percepção da realidade.
Há necessidade de mais um passo: a reflexão.
Embora a compreensão defina o que estamos estudando, a reflexão determina o seu
significado. Refletir sobre os acontecimentos de nosso tempo, ruminá-los, são
atos que nos levam à realidade interior desses acontecimentos. A reflexão
faz-nos ver as coisas da perspectiva de Deus. Na reflexão chegamos a entender,
não somente a matéria de nosso estudo, mas a nós mesmos. Jesus falou muitas vezes
dos ouvidos que não ouvem e dos olhos que não vêem. Logo se torna óbvio que o
estudo demanda humildade
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