24 de jul. de 2012

O ateu, o crente e o bicho-papão ( Ed René Kivitz)


Outro dia alguém me enviou pelo twitter a seguinte pergunta: “quando vc era criança também acreditava em bicho-papão, porque deixou de acreditar?”

Minha primeira reação foi ignorar a pergunta, formulada em tom de crítica a um tweet que postei testemunhando minha fé em Deus. Imaginei que o autor da pergunta não esperava resposta, apenas pretendia sugerir a estupidez da minha fé. Tive a mesma sensação que experimentei quando comecei a ler um texto sobre “razões porque deixei de ser crente” e o autor logo na primeira página comparou a crença em Deus à crença no Saci-Pererê. Mas, passado o ímpeto de deixar pra lá, resolvi responder, pelo menos para mim mesmo.

Minha resposta começaria afirmando que jamais acreditei em bicho-papão. O que me aterrorizava na infância eram os ciganos e o “velho do saco”. Devo isso às minhas avós, que diziam que esses homens malvados gostavam de raptar meninos desobedientes. Registro que acredito em ciganos e velhos do saco, não necessariamente como raptores de crianças, embora seja em parte verdadeiro. Mas resolvi responder como se meu imaginário infantil tivesse sido ocupado por esse tal de bicho-papão.

Eis, portanto, algumas razões porque, embora continue acreditando em Deus, deixei de acreditar em bicho-papão.

  • Não conheço nenhum adulto que acredita em bicho-papão
  • Não conheço nenhuma civilização baseada em bicho-papão
  • Não conheço nenhuma religião que considere o bicho-papão um ser divino
  • Nunca ouvi uma pessoa dizer que foi transformada pelo bicho-papão
  • O bicho-papão não constitui o dilema existencial humano desde sempre
  • Nenhuma tradição de pensamento humano se ocupa com o bicho-papão
  • Nenhum gênio da humanidade viveu atormentado por causa do bicho-papão
  • O bicho-papão não se sustenta num texto considerado sagrado por mais da metade da população mundial, escrito ao longo de 2 mil anos, por 40 autores diferentes
  • Não existe quem atribua a existência do universo ao bicho-papão
  • Jamais alguém defendeu sua fé no bicho-papão com a própria vida
  • Nenhuma das virtudes humanas é associada ao bicho-papão
  • O bicho-papão não é uma crença universal e atemporal
  • O bicho-papão não ajuda a explicar o mundo em que vivo
  • O bicho-papão não ajuda a explicar a complexidade da raça humana
  • O bicho-papão não ajuda a explicar o homem que sou

Cansei. Já passa da meia noite.

© 2012 Ed René Kivitz
http://edrenekivitz.com

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